(Re)aprendendo a trabalhar e a viver em redes

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Encontro com Francisco Brito Cruz, Silvana Bahia  e Sidarta Ribeiro                                                                                                    

Confluentes recebeu Francisco Brito Cruz, codiretor do InternetLab, Sidarta Ribeiro, neurocientista, e Silvana Bahia, diretora do Olabi, organização apoiada pelo Confluentes que trabalha com inserção de pessoas no mundo do trabalho através da tecnologia, para mais um encontro temático aberto a todos os confluentes.

A riquíssima conversa, realizada on-line na quarta, 17 de junho, girou em torno de questões como as transformações impostas no modo como vivemos pelas recentes mudanças na vida digital. De que forma a tecnologia afeta as pessoas, a privacidade, as instituições e a democracia? Como a pandemia modifica a vida em redes?

Os três convidados, todos dedicados – de maneiras diferentes e complementares – à ciência e à tecnologia, falaram de fake news, o papel das plataformas digitais, o debate público nas redes, privacidade, democracia e o impacto de tudo isso em nossas subjetividades.

Francisco, que trabalha com a proteção dos direitos fundamentais na internet, abriu o bate-papo falando sobre o polêmico projeto de lei de vista combater as fake news.

“Dos anos 2000 para cá, dieta de mídia mudou. Fomos da imprensa tradicional, o feijão com arroz, para a internet e seu cardápio variado, que vai de alimentos supernutritivos à junk food da pior qualidade. Antes, o editor de um veículo de comunicação tinha muito poder sobre o que circulava na esfera pública. Agora, com as redes sociais, com o WhatsApp, qualquer pessoal pode viralizar conteúdo com facilidade. Os veículos de comunicação eram os porteiros da informação, mas agora deixaram de ter controle sobre ela. Hoje é impossível sabermos a origem de uma notícia”, comentou.

Ele lembrou também que, muitas vezes, abordamos a tecnologia por um viés determinista – como se as redes sociais tivessem caído do céu e nos obrigasse a usá-la de determinada maneira. “Mas essas tecnologias são fruto de escolhas humanas, sociais e políticas. O Facebook e o Instagram alimentam o narcisismo porque nós os criamos assim”, afirmou.

Silvana, que, com o Olabi, busca democratizar a produção de tecnologia na construção de um mundo mais diverso e justo, levantou uma questão. “O que muda quando uma pessoa trans, negra, da periferia pode criar tecnologia? Não tenho a resposta, mas com certeza será algo muito diferente do que temos agora.” Para ela, precisamos pensar a tecnologia enquanto política e cultura, aproximando saberes e difundindo conhecimentos. “No meio de tanta incerteza, precisamos conservar e nutrir nossas habilidades e nossa capacidade de aprender”, completou.

Sidarta Ribeiro ampliou o debate e apresentou uma visão, em suas próprias palavras, ao mesmo tempo otimista e apocalíptica. “Estamos no limite de um sistema de acumulação de recursos, o capitalismo predatório, que esteve articulado com a ciência para enriquecer poucos em detrimento de muitos”, disse. Por outro lado, ele acredita que a atual geração tem a chance única de garantir o futuro da humanidade. “Se juntarmos o que tem de melhor na sabedoria humana, podemos construir um planeta lindo em 20 anos. A humanidade é danada, mas tem um instinto de destruição que agora parece ter saído do armário de vez.”

O neurocientista afirma que, antes de qualquer coisa, precisamos mudar a forma de nos relacionar com o planeta, com as outras pessoas e com as demais espécies. E ele acredita que a mudança vai partir da parcela menos favorecida da população. “Quem está excluído do sistema, nas favelas, está cada vez mais consciente, empoderado e articulado entre si. Está todo mundo se ligando de baixo para cima.”

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